O seu Camargo é um luso descendente que trabalhou comigo em meados dos anos 1990. Como todo bom vendedor, tinha uma conversa muito fluida, argumentos ilimitados, retóricas memoráveis, ditados para todas as ocasiões e filosofias com os dois pés no inusitado.
Garantindo parte considerável do faturamento da empresa nas horas vagas, o seu Camargo se ocupava mesmo era com a Associação Portuguesa de Desportos, um dos clubes mais improváveis do futebol mundial.
Defensor irredutível da Lusa, o seu Camargo era tão fanático que não se contentava em apenas escalar todas as Portuguesas desde o título paulista de 1935. O homem era bem informado: sabia quais eram as padarias que os jogadores frequentavam e ainda insistia em afirmar que o Toquinho batia faltas melhor do que o Zenon.
Depois da final do Campeonato Brasileiro de 1996, quando a Portuguesa perdeu o título para o Grêmio faltando uns 5 minutos para o final da partida, seu Camargo, achando que o resultado fora arrumado, defendia que a Portuguesa deveria sair da disputa do Brasileirão e formar um campeonato paralelo, que seria muito mais emocionante, juntamente com o Vasco da Gama, a Portuguesa Santista e a Portuguesa carioca.
Pensando bem, acho que a ideia só decola mesmo se o campeonato contar também com o Tuna Luso, de Belém do Pará. O verdadeiro campeão nacional sairia, então, de uma disputa entre o campeão do Brasileirão "comum" e o campeão desta nova liga, bem mais complicada, que reuniria nada mais, nada menos, que 5 titãs do futebol.
Acho que faltaria coragem para o campeão do Brasileirão "comum" validar o título, mas, sem dúvida, seria uma prova de valentia.
Que bela ideia, heim seu Camargo? E o senhor aí, como quem não quer nada, contribuindo imensamente para a valorização do futebol. É de pessoas assim que o futebol está precisando. Parabéns, ó pá!